Encerrado

Em 1999 fundei um sítio na Rede para que se juntasse uma comunidade de ateus e agnósticos para socialização, troca de informação, e criação duma associação ateísta. Em 2008 foi finalmente constituída a primeira associação dessa natureza em Portugal.

Agora, sem recursos para manter uma comunidade e publicação de qualidade neste endereço, encerro-o dignamente.

Quanto a nós, para já é um adeus.

R. Pinho


História

O despertar

Quando chego a Portugal, no final de 1998, o meu país, ainda a recuperar duma rábula à Última Ceia, parecia-me muito beato. Tive a ideia de criar uma iniciativa para a despreconceitualização do ateísmo. Vou ao pt.soc.religiao à procura de talentos, e convido-os para uma lista de discussão chamada Despertar. Depois, com o meu amigo Daniel Cachapa, inaugurei o sítio que ficava aqui neste endereço. Eu apenas tinha dezoito anos.

ateismo.net

Despreconceitualização

A ideia fundadora era não atacar os crentes, mas antes juntar os ateus e agnósticos num sítio construtivo da Rede, com conteúdos e debate de qualidade, e publicamente defendermos o ateísmo como uma posição civica e filosoficamente válida. No início deste milénio, isto era ainda uma coisa que tinha de ser feita em Portugal.

Encontros ao vivo

Tínhamos encontros regionais regulares pelo país, os do Porto animados por mim. De vez em quando, organizávamos encontros nacionais de ateus, sob a engraçada sigla ENA.

Revogação da Concordata

Logo um dos objectivos da página era divulgar as razões para a revogação da Concordata entre a República Portuguesa e a Santa Sé de 1940. Infelizmente para nós todos, uma nova concordata foi aprovada em 2004.

Apostasia

Traduzi livremente, da então página de desbaptização de Bruno Courcelle, uma campanha com modelo de carta de solicitação de apostasia que ainda hoje circula pelos ateus lusofalantes:

Senhor Padre/Reverendo,

tendo sido baptizado na igreja da freguesia de [__] no dia [__] de [__] do ano [__] sob o nome [__], pretendo ter o meu nome retirado do vosso registo de baptismo com a seguinte menção: «declarado apóstota por carta escrita datada de [__]».

De facto, as minhas convicções religiosas e filosóficas não correspondem àquelas das pessoas que estimaram em ter-me baptizado. Assim, os seus escrúpulos da verdade, e os meus, serão aliviados, e os vossos registos ficarão isentos de qualquer ambiguidade.

Aguardando uma confirmação escrita.

Notícias e fórum

O Cachapa havia, com PHP, feito um portal de notícias, que era mantido sobretudo pela Mariana Costa, e um fórum web que, infelizmente, estava sempre a ser atacado ao ponto de se tornar impossível mantê-lo. Ricardo Alves contribuiu com artigos sobre laicidade, e o João Vasco Gama sobre ateísmo. Eu ia gerindo e preenchendo o portal com sugestões de livros, hiperligações, e outros conteúdos.

Entretanto, Portugal assistia à chegada dos blogues.

O Diário Ateísta

Com o surgimento dos blogues em Portugal, é definida publicação da Blogger em ateismo.net/diario, que se torna logo a parte mais famosa do sítio ateismo.net.

O Diário Ateísta tornou-se um dos destinos mais visitados da blogosfera portuguesa graças ao que eu creio terem sido:

  1. A existência de linhas directrizes com aspiração a estatutos editoriais que redigi (apesar de não ser jornalista nem editor) e que, sendo conhecidos pelos colaboradores, regulavam os conteúdos.
  2. A aprovação por pares, por sugestão do Aires Marques, como condição para a publicação de cada artigo no blogue. Isto é, tínhamos uma lista de correio interna para onde enviávamos os nossos artigos. Depois, os restantes autores contribuíam com sugestões ou aprovações. Por humor, sugeri que as aprovações fossem feitas com terminologia do Vaticano como Imprimatur, e Nihil obstat, o que resultou num tom engraçado na lista dos colaboradores.

Associação Ateísta Portuguesa

A minha vontade era que se a associação se chamasse Associação de Ateus e Agnósticos (AAA), mas acabou por vencer a versão AAP.

Havia redigido os objectivos para os estatutos da associação, adaptando-os das directrizes do ateismo.net. Foram adoptados tais como os propus. Só o quinto ponto não fui eu quem o escreveu.

  1. Fazer conhecer o ateísmo como mundividência etica, filosofica e socialmente válida;
  2. A representação dos legítimos interesses dos ateus, agnósticos e outras pessoas sem religião no exercício da cidadania democrática;
  3. A promoção e a defesa da laicidade do Estado e da igualdade de todos os cidadãos independentemente da sua crença ou ausência de crença no sobrenatural;
  4. A despreconceitualização do ateísmo na legislação e nos órgãos de comunicação social;
  5. Responder às manifestações religiosas e pseudo-científicas com uma abordagem científica, racionalista e humanista.

Havia também pedido à American Atheists autorização por escrito para que usássemos, como nosso símbolo, uma versão do seu logótipo com um átomo, mas com a letra P, de Portugal, ao centro.

Aquando da fundação da Associação Ateísta Portuguesa não fui incluído como sócio-fundador, e o meu nome foi esquecido da sua história.


O Futuro

Portugal não parece mais um país religioso, mas no entanto ainda não é um país laico. Considere agora, por isso, fazer-se sócio da Associação República e Laicidade e/ou da Europa Laica.

Recentemente, a título privado lancei o movimento para que a sétima ponte entre o Porto e Gaia tenha não um nome clerical, mas um nome laico: Ponte Manoel de Oliveira.

De resto, poderá tentar revitalizar a história, e começar tudo de novo: veja se alguém aparece no canal #ateismo, ou até mesmo, se lhe conseguir aceder, no grupo pt.soc.religiao.